domingo, 28 de março de 2010

O reflorestamento necessário




A importância das florestas na manutenção do Planeta Terra é inegável. Não estou falando nem do seqüestro de carbono que elas realizam diariamente - importância recentemente questionada devido ao fracasso da COP-15, em 2009, e aos esforços da maioria dos países em manter a poluição nos níveis atuais, devido a um medo injustificado de "não se desenvolverem mais" (como se para se desenvolverem precisassem apenas poluir - mas esta discussão fica para outro artigo).

O que quero ressaltar aqui, dentre muitas outras vantagens, é que as florestas, de uma maneira geral, realizam diversos "serviços", muitas vezes imperceptíveis, mas importantíssimos à segurança e manutenção da vida na Terra. Para citar alguns exemplos : controlam a erosão e a perda dos solos (principalmente em encostas); evitam a desertificação; mantém os níveis dos cursos d´água (não deixando que os rios nem sequem e também não extrapolem seus níveis, o que causa inundações); controlam pragar urbanas e na agricultura (através da manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ecológico); melhoram o microclima (evitando aquecimentos e tempestades extremas, como é comum acontecer na área mais impermeabilizada da Grande São Paulo, por exemplo) e até mesmo protegem populações contra ventos fortes, criando barreiras naturais contra eles. Além destas, muitas outras vantagens podem ser enumeradas aqui. Como podemos reparar, a purificação do ar, através da retirada dos gases tóxicos, nem mesmo fora mencionada (apesar de ser uma destas vantagens).

Já vê-se diversos efeitos desta superexploração na mais diferentes regiões do Planeta. Recentemente tempestades de areia praticamente apagaram Pequim da visão de seus habitantes. Tal areia é proveniente de desertos bastante distantes desta grande metrópole chinesa. O fato é que tais desertos vêm aumentando ao longo das décadas, devido à destruição de praticamente todas as florestas nativas chinesas, seja para expansão agrícola ou industrial. A ausência dos ecossistemas tem aumentado as regiões arenosas consistentemente. Da mesma forma as Filipinas arrasou com suas florestas nativas e hoje sofre com inundações sem solução. E não precisamos ir longe, para ver que a tragédia catarinense de 2008, com as chuvas acima do normal, foi agravada devido à ocupação desordenada de encostas e beiras de rios, outrora ocupados pela mata-atlântica nativa, a qual continha a terra. Da mesma forma a alta taxa de impermeabilização e ausência de verde na Grande São Paulo causou mais de 40 dias de inundações somente nesta ano de 2010 (sem contar os outros anos). E os exemplos não parariam por aí...

Infelizmente a humanidade quase nunca considerou tais vantagens na hora de explorar as florestas. Apenas o valor econômico imediato da madeira e do uso posterior do solo fora considerado ao longo dos séculos. E deu-se uma exploração desmedida dos recursos florestais, em muitos lugares levando-os à exaustão. A verdade é que o ganho com a exploração de madeira é efêmero, imediatista. Pode-se ganhar muito em pouco tempo, mas a mentalidade de "terra arrasada" não deixa nada a ser feito depois. Uma exploração sustentada, através de selos certificadores como FSC ou CERFLOR, para citar alguns exemplos, é o início. Através destes, garante-se que as árvores foram manejadas de forma a manter a floresta em pé e evitar extinção em massa de espécimes (sem contar, também, a questão social que envolvem). Mas ainda há muito a ser feito. No Brasil é uma ínfima porcentagem das florestas que são exploradas corretamente.

Além disso, apenas 3% das florestas mundiais são plantadas, perfazendo menos de 10% da produção madeireira (dados de 2000), mostrando que ainda consumimos - e muito - madeiras exploradas ilegalmente, de florestas nativas; seja na construção civil, nos móveis ou até em forma de combustível (lenha). O reflorestamento, principalmente no Brasil, serve à indústria de papel e celulose e também à mobiliária (placas de madeira). No entanto, tal reflorestamento baseia-se em espécies não-nativas (como pinus e eucalipto) e é necessário averiguar a quantidade de florestas nativas que estão sendo substituídas pelas invasoras. Claro, esta atividade atenua a pressão sobre florestas nativas. Só que não podemos nos basear somente nelas.

A floresta, como um sistema equilibrado de fauna, flora, água, ar e outros elementos, deve servir de exemplo para diversas atividades humanas. Não podemos ter predominância de uma só espécie. Como nas florestas, o plantio consorciado de diversas espécies (nativas e não-nativas) leva a um equilíbrio maior. Pode-se não ter a produtividade de amplas áreas cultivadas apenas com eucaliptos, onde tem-se uniforimidade de toras, facilitando a exploração rápida. Estas áreas são "desertos verdes", pois nem insetos vivem nelas. Por que, então, na consorciar o próprio eucalipto com espécies brasileiras? É perfeitamente possível e teria-se até outros tipos de madeiras, bem como permitiria a vida de animais dentre elas. Isto é apenas uma idéia, para termos a eficácia florestal implantada, trazendo seus serviços ambientais. Extrapolando um pouco, a agrofloresta seria, ainda uma ampliação das atividades de tais locais, produzindo-se alimentos orgânicos de forma consorciada com as árvores.

Enfim, até mesmo o reflorestamento visando a não-exploração é extremamente vantajoso para a população em geral. Como já mencionado, controlar a vazão dos rios e prevenir deslizamentos de enconstas é importantíssimo. Em diversos países têm-se casos de reflorestamento muito bem sucedidos. A região da Nova Inglaterra, sudeste dos Estados Unidos, onde a colonização americana teve início, bastante montanhosa, foi reflorestada já durante o século XIX, à medida que a agricultura era expandida para o oeste do país. O leste europeu, outrora degradado pelo regime comunista soviético, passa por processo de reflorestamento até pelo abandono das terras agrícolas após a abertura política de 1990, quando a população saiu em busca de novas oportunidades em outros locais. A Coréia do Sul, empobrecida e arrasada pela guerra dos anos 50, o que a levou a fazer uso de quase todos os seus recursos florestais, passou por amplo programa de reflorestamento - principalmente das encostas - nas últimas 5 décadas (isso aliado a amplo programa educacional e de desenvolvimento industrial de alta tecnologia). Tal programa já têm seus efeitos positivos: enquanto a pobre e comunista Coréia do Norte ainda sofre com inundações pela ausência de florestas, o país do sul vê este problema como algo longínquo. Outros programas semelhantes ocorrem na Turquia (país também montanhoso e que destruiu suas florestas de carvalhos ao longo de séculos) e até na China, onde uma "grande muralha verde" de 4.480 Km é plantada para conter o avanço dos desertos.

Tais reflorestamentos nunca irão recompor a variedade de espécies originalmente existentes em suas áreas. Mas trazem, de qualquer forma, muitos serviços gratuitos, deixando o ambiente muito melhor do que se estiverem com a "terra nua". O Brasil não tem esta mentalidade. Em diversos estados de nossa federação vê-se áreas abandonadas, desprovidas de agricultura e de florestas. Talvez isso venha da mentalidade brasileira de que "mato é atraso". Arrasa-se a terra e abandona. Um exemplo claro desta atitude é a região do Vale do Paraíba, localizada entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Tal região já foi a de maior expansão agrícola, desde o período colonial até o início do século XX, devido ao café, que já foi o maior produto de exportação brasileiro. Plantou-se café sem limites, em todos os morros e vales da região, arrasando com a biodiversidade local. Após a crise de 1929 e também com o esgotamento da terra, tudo foi abandonado e até hoje o Vale do Paraíba, embora tenha tido grande desenvolvimento industrial na segunda metade do século XX, manteve seus morros secos, cheios de erosões e com não mais do que capim crescendo neles. Uma tristeza, verdadeira terra arrasada. O plantio de florestas deveria ser incentivado em regiões como esta, aumentando a biodiversidade, melhorando os indicadores ecológicos e a paisagem de uma maneira geral. Mas nada se faz... E a Amazônia está indo para o mesmo caminho. Em grande parte do Pará já não há mais florestas, apenas terra arrasada. O que se ganha com isso?

Um amplo programa de reflorestamento no mundo todo poderia ser coordenado por entidades como Banco Mundial ou FAO. Incentivaria-se globalmente e atuaria-se localmente, com estados, prefeituras, empresas, etc. Atuaria-se tanto visando a produção quanto a preservação. O mundo ficaria mais verde e mais sustentável. Os "créditos de carbono" poderiam ser um incentivo. Mas não o único. As florestas sustentam muito mais que isto. E todos ganham com elas.

FONTE DE PESQUISA (dados): Brown, Lester R. - "Éco-Économie" (Editora Seuil)

quarta-feira, 10 de março de 2010

A incorporação da sustentabilidade no dia-a-dia

Alguns classificam como um modismo, outros a usam como marketing, muitos questionam sua real aplicação e seus efeitos; mas a verdade é que a palavra “sustentabilidade” precisa ser considerada em nossas vidas pessoais e profissionais, no contexto do mundo atual, em que é mais que provado o fato da ação humana transformar, de forma significativa, o funcionamento da vida na Terra.

Por mais que os efeitos da ação humana nas mudanças climáticas estejam sendo questionados e o IPCC (Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas) esteja desmoralizado até pelo fracasso da COP-15 em 2009, a verdade é que todos corremos grandes riscos se não fizermos nada para ao menos parar ou reverter o processo de aquecimento global causado pela ação humana. O contexto não é apenas global, mas muitas vezes localizado, como é o caso dos mais de 48 dias de chuvas intensas, causando inundações e muita destruição em São Paulo neste início de ano. O microclima da metrópole, influenciado não só pelas condições atmosféricas, mas também pela ampla área impermeabilizada por concreto e asfalto, a ausência de áreas verdes, as construções irregulares em encostas, a diminuição das áreas dos cursos d´água e diversos outros fatores que, aliados à poluição, aumentam, e muito, a intensidade das chuvas; além de dificultarem seu escoamento. Este é apenas um dos inúmeros exemplos localizados que acontecem mundo afora, mas que afetam diretamente a vida de milhões de pessoas. Os prejuízos são incalculáveis a muitas famílias e empresas, o que nos leva a concluir que preservar o meio-ambiente também faz bem ao bolso!

A falta de planejamento muitas vezes nos causa tantos transtornos atuais. O desenvolvimento a qualquer custo, tão em voga nos anos 60 e 70, hoje já não se aplica, pois percebe-se nitidamente o rápido esgotamento de diversos recursos naturais. Precisaríamos de 3 a 4 “Planetas Terra” se todos os habitantes do globo tivessem o mesmo nível de vida (insustentável) de um norte americano. Esta é, afinal de contas, a aspiração de muitos. Com toda razão, temos que progredir materialmente. Como conciliar isto com a sustentabilidade?
Acontece que muitas pessoas têm a visão de que ser sustentável significa sacrifícios imensos à vida de cada um e ao trabalho. Privação de conforto, etc. E não é o caso. Muitas vezes pequenas atitudes fazem a diferença, além de até melhorar a vida do cidadão e do planeta de um modo geral. Além de tudo, quando incorporadas ao dia-a-dia, elas passam a ser “automáticas”, passando-se até de forma quase despercebida. Exemplos que não custam muito não faltam, tais como a separação do lixo para reciclagem, a economia de energia (desligamento e troca de lâmpadas por mais econômicas), a manutenção de áreas verdes permeáveis nas propriedades rurais e urbanas e mais uma infinidade de pequenas atitudes que qualquer família ou empresa pode tomar. Isso sem contar todos os processos que podem ser melhorados dentro de uma empresa e que muitas vezes geram economia a ela. A geração renovável de parte da energia numa indústria, só para citar um exemplo (a partir de resíduos, solar ou eólica, dependendo da disponibilidade) ou mesmo a venda desses resíduos para recicladoras desafogam o caixa no final das contas. Além de reduzirem seu impacto global, geram recursos ou, no mínimo, economia financeira. A contrapartida do Estado, com políticas que fomentem a sustentabilidade em setores como energia, transportes, indústria, agricultura, etc. é fundamental. Tais atividades benéficas devem ser incentivadas. E nós devemos cobrar nossos governantes.

Estes são sinais de uma nova economia que está se descortinando. Um novo capitalismo que devemos aplicar como fator de transformação, em busca de uma “eco economia”. Uma economia que pense de forma cíclica, e não linear como sempre pensou-se até bem pouco tempo atrás. Ao invés de pensarmos no processo produtivo começando na matéria prima e terminando no lixo, temos que pensar no destino deste resíduo não como o final do processo, mas colocando-o num ciclo infinito. Isto não é nenhuma novidade, pois a natureza sempre agiu desta maneira. E nós todos, como sendo parte dela, por que não pensarmos desta forma, em tudo? Tudo se transforma, nada se perde. Tudo o que queimamos, processamos ou mesmo jogamos fora continua aqui, nesta esfera onde habitamos. Por que, então, não gerenciarmos todos estes recursos de uma forma mais racional, para que nossas gerações possam habitar este lugar de forma mais saudável, ainda por muito tempo?