sábado, 28 de novembro de 2009

Os sinais já são visíveis


Pegando um "gancho" no assunto do artigo anterior deste blog, os sinais de inabitabilidade do Planeta Terra, causados pela ação do homem, estão mais visíveis do que nunca. É impossível, a qualquer cético, não percebê-los. Vamos enumerar rapidamente alguns fatos bastante exemplares que foram noticiados durante a última semana, às vésperas que estamos da Conferência do Clima, em Copenhage (Dinamarca), onde algum acordo mundial (extremamente necessário) não sabe-se se vai mesmo ser firmado, devido à resistência de muitos países, que parecem não enxergar a realidade (ou não querem).

Vamos a algumas evidências das mudanças em curso:
- No Recife (Pernambuco, Brasil) a perda de áreas urbanas para o mar já preocupa a população, estimando-se prejuízos imensos aos imóveis construídos junto à orla marítima. Pessoas que vivem há mais tempo na cidade percebem que locais onde antes havia areia, ocupada com quiosques de vendas de água de coco e locais de prática esportiva, hoje são ocupados pelo mar.

- Da mesma forma, no litoral paulista também percebe-se a redução de diversas praias ao longo dos anos (sem retorno à condição anterior, comprovando que não é um fator "cíclico", como muitos dizem). A praia do Gonzaguinha, em São Vicente, está quase desaparecendo. Diversas praias de Ubatuba também sofrem redução bastante significativa. Obviamente que a construção desenfreada de edifícios, portos, estradas,etc. junto à faixa litorânea brasileira altera significativamente a dinâmica da região. Isso aliado ao aumento global do nível dos mares já gera um prejuízo estimado em R$ 207,5 bilhões aos proprietários de imóveis em toda a costa de nosso país.

- Na Suíça um de seus principais atrativos turísticos, que são as estações de esqui nos Alpes, estão ameaçados pela redução gradativa da neve, ano a ano. Estima-se que o país poderá perder US$ 1,6 bilhão por ano se esquiadores passarem a deixar de visitar as montanhas. Até mesmo olimpíadas de inverno estão sendo ameaçadas de continuar sendo realizadas (estações de esqui em outros países, como Canadá e Estados Unidos, sofrem o mesmo efeito). O sinal real disso é que bancos estão negando empréstimos a estações de esqui em pontos mais baixos, mais vulneráveis à falta de neve, assim como patrocinadores de jogos de inverno estão repensando se continuam a investir neles. Será que nem quando o "bolso" das empresas começa a ser afetado pelo aquecimento global, os países não vão pensar em fazer algo para tentar reverter esta tendência?

- Na cidade de Iqaluit, em pleno ártico canadense, habitat há séculos dos povos esquimós da etnia inuíte (famosos por sobrevivência no gelo), o aquecimento global não é um problema para o "futuro da humanidade", segundo conclui a prefeita Elisapee Sheutiapik. No verão do ano passado a temperatura bateu em 26 graus célsius, em pleno ártico, algo nunca visto por lá! Ao mesmo tempo que o degelo libera áreas de terra, que antes não podiam ser habitadas, o aumento do volume das águas inunda diversas áreas e chegou até a derrubar uma ponte. E os lagos congelados por onde podia-se caminhar, antes tão conhecidos dos moradores, não se sabe mais quando nem por quanto tempo estarão em condições de serem atravessados a pé...

- A ilha de Kiribati, no Oceano Pacífico, está ameaçadíssima de desaparecer e o presidente Anote Tong já guarda recursos do país para uma possível realocação de seus 100.000 habitantes em algum outro lugar do planeta, pois cada vez mais a população é ameaçada por tempestades nunca antes vistas e pela invasão das águas do mar sobre suas terras, cuja altitude não ultrapassa os 5 metros sobre o nível do mar. E este é apenas um exemplo, dentre várias ilhas do Pacífico que encontram-se sob a mesma ameaça - detalhe é que são países que emitem pouquíssimo carbono em relação à média mundial, mas são os mais ameaçados.

-A Holanda já investe em casas anfíbias, construídas sobre a água e cuja altura pode variar através de elevadores hidráulicos, pois o país - em grande parte situado abaixo do nível do mar - já não vê os diques de contenção como suficientes. Vislumbra-se a possibilidade de transferir grande parte de sua população para dentro da própria água.

- Na região da Patagônia, no sul da Argentina, tempestades de areia inviabilizam fazendas inteiras. A mudança climática tornou a região, antes fria e seca, um pouco mais quente e úmida após os anos 1970, o que fez com que muitos fazendeiros instalassem-se na região, desmatando as florestas existentes para substituí-las por pastagens e plantações. Depois disso, o nível pluviométrico veio a baixar novamente e a ausência de florestas não conteve a areia, que começou a cair sobre as outrora verdes pastagens e plantações. Sinais de que o desrespeito à natureza traz suas conseqüências.

- Na região do Caribe e proximidades, incluindo Cuba e também o sul dos Estados Unidos o volume de tempestades, que incluem tornados, aumenta sem parar. Entre 1980 e 1990 houve uma média de 10 tempestades tropicais por ano na região. Entre 1998 e 2007 a média passou para 15 por ano, sendo que 8 delas são furacões. Se nem a riquíssima nação norte-americana ainda não teve tempo de adaptar-se a um número tão grande de catástrofes ambientais (vide o Katrina, em New Orleans), imaginem a paupérrima Cuba, que hoje até aceita ajuda financeira e tecnológica de entidades provindas de seu grande "inimigo imperialista", para reparar os danos sem fim que as desordens climáticas causam à população local.

- O sul do Brasil já possui áreas quase inviabilizadas para a moradia em grande parte do ano. Só no Rio Grande do Sul em dois meses e meio, já foram 12 temporais fortes, considerados desastres naturais pela Defesa Civil do Estado. Nos últimos 15 dias, 66 cidades decretaram situação de emergência. E 15,8 mil casas foram danificadas. Quase 5 mil pessoas estão sem ter onde morar e mais de 20 mil pessoas tiveram que deixar as casas em todo o estado.Importante notar que várias destas regiões sofreram com secas nunca vistas há muito pouco tempo. São extremos climáticos que não existiam. Não precisamos nem mencionar Santa Catarina, onde um desastre climático destruiu boa parte do Vale do Itajaí e adjacências há um ano atrás, sendo que este ano as chuvas causaram estragos novamente na mesma região. No oeste e norte do Paraná também são vistos tornados a praticamente todas as semanas, devastando diversas cidades. Estas regiões também sofreram seca recentemente. E importante notar que, nos últimos 50 a 60 anos, estas áreas tiveram suas florestas dizimadas em nome do "desenvolvimento" e da abertura das "fronteiras agrícolas" (sempre este mesmo discurso). Se uma política de preservação tivesse sido implementada, talvez não tivéssemos ventos e inundações tão fortes. A água e o ar deslocam-se com muito mais rapidez sem as barreiras naturais, são leis da física.

- As secas Amazônicas, que assustaram o mundo no ano de 2005, voltaram este ano, contradizendo o mito de que as águas da região são 'infinitas' (ilusão que leva à construção de imensas hidrelétricas por lá) e confirmando o perigo de "savanização" da floresta; que pode ocorrer se as mudanças climáticas e o desmatamento se intensificarem ainda mais;

- O derretimento das geleiras nos países andinos, como Peru, Bolívia, Chile, Argentina; já ameaça o abastecimento de água em várias cidades à beira dos Andes (em muitos locais já não há quase mais gelo algum).

Existem muitos outros casos, além dos citados acima que poderíamos listar aqui. E é importante ressaltar que as emissões de gases estufa aumentaram 62% apenas no Brasil entre 1990 e 2005. A proposta do Brasil em Copenhage não trará obrigatoriedade de corte de emissões, apenas "intenções". Da mesma forma os Estados Unidos quer agir, alegando não saber se o congresso aprovará as reduções. Assim também pensam paises como Australia e Canadá (que nem assinaram Kyoto, em 2007). A China (o maior emissor atual), que ia até boicotar a reunião, agora propõe medidas de eficiência energética (e eles têm condições). Os países pobres alegam que só os ricos precisam reduzir (esquecendo-se que nenhum acordo é possível sem a anuência dos "pobres", pois mais da metade das emissões do Planeta provém deles!). Enfim, quase todos ficam na superficialidade, enquanto os efeitos do aquecimento estão aí visíveis para quem quiser e para quem não quiser enxergá-los.

E olha que mudanças na matriz energética não são impossíveis, pois a tecnologia está aí, e nem tão caras, visto que com a escala reduziriam-se os custos! Só os desertos dos Estados Unidos e da China são suficientes para gerar energia solar e eólica para ambos os países mais poluidores! Se a Alemanha e a Dinamarca, por exemplo, que são países muito menores e com menos sol, estão conseguindo mudar suas matrizes para energias limpas, porque países maiores não conseguem? O Brasil, então, com toda a abundância de vento e sol, quer investir em hidrelétricas que sumbergem florestas (as quais absorvem carbono) e termoelétricas ultrapassadas e poluentes! Ou seja, tudo na contra-mão!

Sabe-se que quaisquer ações que sejam tomadas não terão impactos necessários na diminuição das mudanças climáticas. O que vivemos hoje é conseqüência, muitas vezes, da poluição ocorrida há mais de 50 anos atrás. Portanto estamos atrasados em começar a tomar providências. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo é um caminho, muita coisa já começou a ser feita, mas é preciso ter continuidade. Esperamos que Copenhage nos mostre esta continuidade.


Fonte das Informações: Jornal O Estado de São Paulo, edições entre 25 e 27 de Novembro de 2009

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Gabriel Bertran

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