sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vivemos um grave crise de percepção




O pouco que eu sei sobre o que o cientista Fritjof Capra denominou uma "Crise de Percepção" que, segundo ele, o mundo atual vive, percebo que aqui no Brasil está mais que exacerbado do que nunca.

Vivemos uma gravíssima crise ambiental e a percepção do povo brasileiro (refletido em seu irresponsável governo) é que nada demais acontece. Inclusive toma-se decisões exatamente na direção contrária.

Alguns podem achar que é excesso de pessimismo do autor deste blog (que inclusive ficou um tempo sem escrever aqui tamanho o baixo índice de melhora que se vê na área de preservação ambiental no Brasil).

Como eu sempre digo, temos muito pouco o que comemorar. Vamos voltar um pouco desde o início do ano. Tivemos os desmoronamentos de encostas devido às gravíssimas chuvas no sudeste em janeiro, conforme vimos em São Luís do Paraitinga(SP) e Angra dos Reis(RJ). Em junho as chuvas atingiram o nordeste do país, deixando mais de 40 mil desabrigados. O mais interessante é que tal volume de chuvas ocorreu em uma região notoriamente seca, mesmo sendo na ironicamente denominada "zona da mata". Ironicamente porque mata não mais existe ali e atribui-se cabalmente a submersão das cidades ao desmatamento ao longo de rios e morros nestes 500 anos de Brasil. O ciclo da cana-de-açúcar do Brasil colonial acabou e deixou este rastro de destruição. Que falta que faz a floresta nativa e ninguém percebe isso!

Agora neste "inverno" de agosto, as temperaturas em todo o Brasil estão acima da média (só para situramos, hoje faz cerca de 30 graus em Curitiba, cidade que era denominada a "capital mais fria do Brasil") e as florestas brasileiras dramaticamente queimam de norte a sul. O estado campeão da motosserra, Mato Grosso, deve se orgulhar também que é primeiro lugar em queimadas. Junto com ele, Pará, Acre, Rondônia, Tocantins e muitos outros estão em chamas. Nem mesmo com os problemas respiratórios das pessoas fazem com que elas percebem a falta que as florestas preservadas fazem! Será que nem mesmo com uma cidade quase inteira destruída pelo fogo em Mato Grosso (Marcelândia) vai fazer a população acordar para a preservação ambiental? Não é apenas a falta de comida que mata! E a falta de água também será uma das conseqüências deste verdadeiro ataque à nossa natureza.

E os ruralistas devem estar comemorando (aliás, estes incêndios estão longe de terem características de "causas naturais" - o que eles terão a dizer?), depois de aprovarem em comissão do congresso o assassinato do Código Florestal, afrouxando suas leis e anistiando quem destruiu até hoje. Uma reforma "tiro no pé", pois sem água, terra e ar de qualidade em breve produtor rural nenhum conseguirá plantar.

Estas entidades agropecuárias, junto com alguns políticos inescrupulosos como Aldo Rebelo, fazem de tudo para distorcer a realidade, aumentando ainda mais esta "crise de percepção". Eles tentam levar a população a pensar que nós, ambientalistas, somos contra o desenvolvimento, somos pagos por "organizações internacionais" (quem me dera) para atrasar o desenvolvimento do Brasil, etc. É um profusão de inverdades que beiram o ridículo, pois provas científicas de que o planeta não agüenta mais tamanho abuso não faltam! Os recursos naturais são finitos e a capacidade de reposição planetária há muito se esgotou, portanto preservar é fundamental à nossa sobrevivência.

Da mesma forma os "desenvolvimentistas" instalados em Brasilia nos empurram usinas hidrelétricas totalmente desnecessárias, que inundarão imensas áreas da Floresta Amazônica e nem gerarão quantidade suficiente de megawatts durante todo o ano, como é o caso de Belo Monte (além do que, com o desmatamento intenso a tendência é que a vazão dos rios diminua mesmo). Fazem tudo sem licitação e sem consultar as populações locais - as mais atingidas. Agem como nos governos militares, ignorando o fato de que um mosaico de energias renováveis poderia ser instalado por toda parte, utilizando recursos abundantes como resíduos, vento, sol, etc. Os investimentos seriam menores e o meio-ambiente seria poupado. Novamente vemos a crise da percepção, pois nossos políticos não têm a capacidade de enxergar que o mundo mudou, as tecnologias mudaram, que há alternativas viáveis e sustentáveis. Querem continuar fazendo tudo da mesma forma que sempre fizeram!

A crise da percepção se dá também na forma do povo enxergar seus dirigentes. Não conseguem ver que estão sendo enganados por este partido que está aí - não só na área ambiental - e que estamos caminhando a passos largos para uma ditadura de partido único, com grave ameaça à liberdade de imprensa. Um povo sem imprensa é um povo sem voz. Como reivindicaremos melhorias na saúde, na educação e no meio-ambiente, se nem mesmo dentro desta crise estupenda que vivemos conseguimos? Ainda temos a imprensa para nos informarmos. Sem ela só saberemos o que acontece diante das tragédias. E mesmo com elas, para muitos é difícil perceber...

Na propaganda governamental vivemos um país quase perfeito e sem problemas. Estas mentiras, repetidas milhares de vezes, tornam-se verdades aos olhos do povo.

Como fazer o povo perceber o que acontece diante de seus narizes??