domingo, 21 de junho de 2009

Destruição na Marginal do Tietê


Nesta quinta-feira o site UOL nos presenteou com imagens chocantes, como esta acima, de operários cortando as poucas árvores existentes na Marginal do Tietê, na cidade de São Paulo. (leiam matéria completa no link http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/06/18/ult5772u4375.jhtm ). Alguns dirão que são apenas alguns exemplares, que nem fazem parte de nosso ecossistema (algumas delas são realmente falsas figueiras "importadas"). No entanto as mesmas estavam adaptadas ao local e abrigavam importante biodiversidade, além de reduzirem a temperatura e a pressão das chuvas nesta região ambientalmente crítica da maior metrópole do País.

Mas isto é apenas uma parte de tudo o que está para acontecer ali. Esta imagem acima é apenas um símbolo de um projeto que começa a ser implantado nas vias expressas ao lado do finado rio Tietê, projeto que vai na contra-mão de tudo o que aquela várzea precisaria.
O que será feito ali é o absurdo dos absurdos: a implantação de mais vias para automóveis, justamente nos poucos locais onde ainda existe um pouco de verde ao lado do rio!

Precisamos voltar um pouco na história, para demonstrar que o Tietê, assim como a maior parte dos rios que cortam São Paulo, sempre foi visto e utilizado de maneira incorreta. Historicamente as margens do Tietê sempre foram alagáveis em períodos de chuva. Durante as administrações do prefeito e engenheiro Prestes Maia (primeiro nos anos 40, depois na década de 60), quando foram elaborados os principais planos viários para a cidade de São Paulo, fez-se a retificação do rio Tietê e posteriormente implantou-se o sistema de avenidas denominadas "marginais" ao rio. Claro, não pode-se questionar a importância da adequação viária em uma cidade que não pára de crescer, como é o caso de São Paulo. Mas ali ao lado do rio (como em muitos outros rios da cidade) cometeu-se três erros: a retificação, que aumenta a velocidade de escoamento da água; a impermeabilização com o asfaltamento das margens e, finalmente, a perda da vegetação da borda ("mata-ciliar"). Isso sem contar a priorização do transporte individual, que é outro grave problema ambiental que voltaremos a discutir. Bem que, na época, o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito (responsável pelo plano urbanístico da cidade de Santos, SP) propôs um projeto em que o curso normal do rio Tietê, com seus meandros, seria mantido, criando-se parques lineares ao longo de suas margens e localizando-se as avenidas longe das margens. Isso protegeria o rio e também os motoristas das constantes enchentes, mantendo-se um pouco do ecossistema original. Mas ele não foi ouvido. E o que se fez foi o pior dos mundos (retificação e asfaltamento), o que causou as tão conhecidas enchentes nos verões paulistanos.

Recentemente, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), acelerou-se o programa de despoluição e desassoreamente do rio Tietê, com resultados visíveis, mas ainda longe do ideal (a população também não colabora, pois continua-se a jogar detritos dentro do rio). Mas, parte do problema das enchentes foi resolvido, através da dragagem destes detritos, aprofundando-se a calha do rio (o mesmo que "chover no molhado", mas dá algum resultado...) e também iniciou-se um amplo reflorestamento das margens do rio e dos canteiros entre as vias, através do plantio de milhares de mudas de árvores nativas do Brasil. Inclusive após cerca de 4 anos, algumas árvores já tomam um porte que dá um outro ar ao outrora esgoto a céu aberto, como é conhecido o rio paulista. Inclusive dentro deste programa foram aumentados os coletores de esgoto, para evitar o despejo in natura no curso d´água (alguns municípios vizinhos, como Guarulhos, não querem colaborar e continuam a despejar os dejetos da população dentro do Tietê).

Pois bem, justamente onde formavam-se lindos bosques, que além de diminuir a temperatura ajudariam na absorção das violentas águas das chuvas de verão, o atual governo, José Serra (também do PSDB) propõe.. asfaltar estes locais, totalmente! Ou seja, tudo o que foi feito de errado no passado agora se repete. Parece que nossos governantes não aprendem com os erros do passado! Qual seria o motivo disto? Simplesmente acabar com o trabalho de seu antecessor (que não deixa de ser adversário dentro do partido), ou seria, mais uma vez, a pressão das grandes empreiteiras, sempre sedentas por obras faraônicas, em troca de financiamentos de campanha? Não estou dizendo que isto seja privilégio deste ou daquele partido. O partido do governo federal (PT) também abre as portas para imensas obras destruidoras ambientais, como as que abrirão estradas e hidrelétricas no pouco que resta da Amazônia.

Mas voltando a São Paulo, outra solução ambientalmente viável e que nunca pensou-se para esta metrópole tão problemática é o investimento em transporte coletivo de qualidade, como os trens de superfície ou mesmo metrôs subterrâneos. A rede está sendo ampliada a passos lentos (enquanto cidades bem menores que São Paulo, como Paris, chegam a ter 400 Km de redes de metrô, a capital paulista mal chega a 60 Km). Por quê não pensou-se em uma solução do tipo para a Marginal Tietê também? Pelo contrário, prioriza-se o transporte individual, ineficiente e poluente. Não adiantará colocar 20 pistas de cada lado do rio (como se coubessem!), pois com o aumento constante da frota, elas nunca absorverão tal trânsito. Alegam que a obra serve para desafogar também o trânsito de passagem, cujos veículos apenas passam por São Paulo (para ir, por exemplo, do Vale do Paraíba para o sul do Brasil, por exemplo) e congestionam as vias Marginais. Só que este problema iria ser resolvido pelo Rodoanel, outra obra em andamento pelo governo paulista. Tudo bem que o trecho norte do Rodoanel ainda nem começou, mas quando o mesmo for concluído, haverá um esvaziamento da Marginal Tietê (ao menos supõe-se). Aí, mais uma vez prova-se que este desmatamento e esta impermeabilização constantes mostram-se inúteis!

É um tremendo equívoco urbanístico, como aliás tantos outros que comete-se no Brasil. Pensa-se no micro, nunca no macro. A região metropolitana deve ser submetida a um planejamento urbano e ambiental muito mais amplo. Não é meia dúzia de faixas de rolagem e novas pontes que vão resolver o trânsito de mais de 6 milhões de veículos. Só servirão para aumentar as enchentes... fala-se em compensação ambiental, mas com tanto asfalto haverá espaço para isto?

2 comentários:

ARQ. GABRIEL ENGRACIA disse...

O Secretário-Chefe da Casa Civil de São Paulo tenta desfazer alguns fatos denominados "mitos" sobre as reformas na Marginal Tietê. Vamos discuti-los melhor. Alguns não seriam totalmente "mitos", outros talvez. Acredito que precisam ser estudados a fundo para serem comprovados.
De qualquer forma,como este é um espaço democrático,com a palavra o secretário (copiem e colem o link abaixo para lerem):

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090915/not_imp435012,0.php

Vamos dar andamento a esta discussão!

ARQ. GABRIEL ENGRACIA disse...

Ainda sobre a questão da Marginal Tietê, importante ler estas considerações de urbanistas e geógrafos, publicadas na revista A.U.:
http://www.revistaau.com.br//arquitetura-urbanismo/191/artigo161841-1.asp