quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Haverá chances para nossas florestas?



Nota aos Amigos,
Desculpem-me a minha ausência neste blog. Não sei se os "quase 6 leitores" que o blog deve ter sentiram minha falta (risos). Estive estudando muito para minha especialização em Economia e Meio Ambiente, dentre outras atividades. Bem, vamos então retomar os assuntos do momento.


Como todos sabem, estamos em vias de aprovação das modificações no Código Florestal brasileiro, modificações que estão praticamente em sua totalidade a serviço dos grandes produtores rurais, que são os verdadeiros articuladores deste verdadeiro atentado à biodiversidade brasileira, descaracterizando uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, como já discutimos várias vezes neste espaço.

As sociedades, sindicatos, partidos e demais agremiações representativa do agronegócio mais retrógrado existente no mundo estão, infelizmente, muito bem articuladas (talvez mais do que o movimento ambientalista) e utilizando-se de técnicas bastante visíveis de lavagem cerebral para justificar suas mentiras. Utilizam-se, inclusive, do discurso de defenderem o "pequeno produtor rural", quando na verdade estão defendendo a eles mesmos. Ao pequeno produtor interessa a preservação das florestas em sua propriedade ou mesmo próximo a ela, visto depender delas para manutenção da terra fértil, da água abundante, da polinização, dentre muitos outros serviços "gratuitos" que a natureza presta (mas que possuem - e muito - valor).

Outra mentira deslavada deste setor da economia que há mais de cinco séculos desmata nossas florestas é o de que eles são praticamente os "guardiões" da alimentação do povo brasileiro, para justificar mais desmatamentos em troca de produção de mais comida. A verdade é que o brasileiro alimenta-se mais da produção das pequenas propriedades, pois nosso prato sempre foi bastante variado. O problema da fome não se deve à falta de terras para plantar e sim à má distribuição de renda e ao desperdício de comida. Felizmente com as tecnologias atuais é possível ampliar a produção agropecuária sem destruir mais áreas com matas nativas. Há muitos campos abandonados pelo Brasil afora e os atualmente em uso podem ter sua produtividade ampliada bastante, inclusive consorciada com florestas próximas, beneficiando-se da biodiversidade e utilizando menos agrotóxicos. A única intenção dos grande http://www.blogger.com/img/blank.gifprodutores rurais é aumentar a exportação de seus commodities, principalmente para o país com maior crescimento econômico e voraz consumidor de recursos naturais, que é a China. Vale dizer que o valor agregado da soja, da carne e outros produtos in natura que são exportados trazem muito pouco valor agregado à economia brasileira, do que se exportássemos produtos tecnológicos ou mesmo produtos agrícolas processados industrialmente. Em suma, o que os ruralistas querem é dinheiro fácil e infinito. Querem garantia de terras para expandir suas culturas sem limite (e o correntão deles aumenta cada vez mais o desmatamento amazônico). Mas não existe crescimento infinito nem crescimento sem sustentabilidade. Tudo tem um limite e um dos limites mais claros da economia são os recursos naturais, os quais se não repostos, se esgotam.

Outra grande tática ruralista para justificar a modificação da Lei visando absurdos como diminuir reservas legais, anistiar desmatadores, etc. é dizer que toda manifestação em prol do meio ambiente - mesmo as espontâneas como esta aqui - provém de "ONGs internacionais que não querem o desenvolvimento do Brasil". É um festival de besteiras sem fim. Da minha parte aqui quero esclarecer que eu sou um cidadão brasileiro como você, leitor, que leio e estudo o assunto e tenho consciência da importância das florestas preservadas para nossa própria qualidade de vida e para a manutenção das próximas gerações. Hoje diversos estudos comprovam isto. Quando os portugueses chegaram aqui à América do Sul essa "abundância de mato" que havia no território brasileiro talvez não valesse nada para eles, então a ordem era queimar tudo, plantar, abandonar e ir para outra área que pudesse ser queimada. Infelizmente a nossa classe rural ainda pensa assim, em sua maioria. O que eles querem com esse "Novo Código Florestal" é mais liberdade para fazerem o que criminosamente já fazem. Basta ver estados como Mato Grosso e Rondônia, onde a Floresta Amazônica está quase extinta. E é sabido que se ela chegar a um grau acima de 20% de sua área desmatada, aí sua regeneração será ainda mais difícil. As secas e incêndios que atingem a Amazônia já fogem dos padrões considerados normais em algumas épocas. O desequilíbrio já dá sinais para todos nós há tempos. Mas alguns insistem em dizer que eles não existem e ainda botam a culpa em "uma grande conspiração internacional". É bem capaz que eles atribuam a mim e a outros cidadãos conscientes e indignados o rótulo de "conspiradores internacionais". Bem que eu gostaria, mas não pertenço a nenhuma organização dessas e nem conheço ninguém que pertença. A indignação é geral, grande parte da população desaprova o "novo código".

O que há é um grande consenso - até um tanto informal - de que não sobreviveremos se não preservarmos, se não mudarmos nossa forma de pensar, se não modificarmos nossa economia de uma maneira geral, premiando aos que preservam, incentivando o aumento dessa preservação. Um novo código deveria fomentar ações positivas por mais preservação e não mais destruição, como quer irracionalmente a classe rural brasileira, de olho apenas nos lucros, sem considerar as consequências.

Mesmo que houvesse essa tal conspiração, não custaria eles ouvirem estes apelos, pois não são ao acaso. O Brasil não é um país isolado no Planeta. Existe a soberania, mas existem tratados e convenções internacionais. Além do mais, se outros países ditos "de primeiro mundo" erraram no passado, desmatando todas as suas florestas originais, nós não precisamos repetir esses erros. Até porque hoje estes mesmos países reflorestam muitas áreas, inclusive às margens de rios, etc., pois sabem da importância estratégica das matas.http://www.blogger.com/img/blank.gif
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Quando da época da escravidão, o Brasil foi um dos últimos países (senão o último) a libertar os negros. Chegou-se ao limite. Naqueles fins do século XIX, a Inglaterra fez bastante pressão para que o Brasil libertasse seus escravos. A mesma classe dirigista alegava, à época, interferências internacionais em nossa "soberania", para justificar a perpetuação deste grande atentado aos direitos humanos. Apenas após muito tempo e com boicotes sucessivos a nossas exportações, verificou-se a eficiência muito maior de uma mão-de-obra paga, motivada e com direitos é que os políticos brasileiros "acordaram" para a importância de abolir a escravidão. Espera-se que na questão ambiental estes senadores e deputados comprados não demorem a perceber a verdade, porque as próximas gerações pagarão caro pela destruição! Aliás, as atuais já estão pagando. Basta lembrar as recentes tragédias no Rio de Janeiro, Santa Catarina e outros lugares.. os sinais são evidentes!!