segunda-feira, 4 de abril de 2016

Cotolengo : recuperação humana NOTA 10. Preservação ambiental NOTA 0

A capela do Pequeno Cotolengo,antes sombreada por lindas árvores,
agora ardia sob um sol de 33 graus.
A instituição Pequeno Cotolengo Paranaense comemora, neste mês, 51 anos de atuação em Curitiba. Trata-se de uma organização não-governamental exemplar no apoio, tratamento e recuperação de seres humanos com necessidades especiais e temos que parabenizá-los imensamente por toda esta linda história ao longo de 5 décadas.
Devido justamente a este trabalho tão importante para a melhoria do ser humano que eu me espantei com as cenas (algumas retratadas nestas fotos) que presenciei no último domingo (03/04/2016), durante o tradicional churrasco beneficente que a instituição promove mensalmente: um antigo bosque, presente no terreno com mais de 120.000m² no bairro Campo Comprido (Curitiba, PR) onde está instalada a sede do Pequeno Cotolengo Paranaense, foi totalmente destruído! Este bosque - composto com mais de 100 árvores centenárias - era utilizado como estacionamento sombreado aos domingos. Aconteceu que neste último dia 03, o calor era imenso em Curitiba em pleno outono (a temperatura beirava os 33 gaus) e o frescor das árvores foi substituído por carros, muitos carros soltando fumaça... Enfim, praticamente um deserto, difícil até de olhar, tamanha a feiura dos tocos no chão e o reflexo que o sol causava, devido à lataria dos veículos.
Eram dezenas de árvores que sombreavam os veículos no estacionamento. Agora, restam apenas calor, desolação, tristeza..
A atitude de uma instituição exemplar foi bastante extremista. Praticamente um extermínio das árvores. Em resposta a um questionamento em sua página numa rede social, o Pequeno Cotolengo afirma que as árvores estavam "apodrecidas". Bem, não é o que se vê nos tocos que restaram no chão. Além do mais, como dezenas de árvores iriam "apodrecer" ao mesmo tempo? Alega-se que foi feita análise e que a Prefeitura de Curitiba autorizou. Até acredito que uma poda e até corte de um ou outro exemplar poderia ser justificado por um laudo técnico. Mas a simples eliminação de TODO o bosque, que compunha o complexo arquitetônico da instituição, formando um parque, foi muito estranha.

No bosque destruído haviam árvores de diversos portes.
O que justificaria a eliminação de todas elas?
Atitudes como esta depõe contra qualquer instituição que atende à comunidade. É óbvio que nada desmerece o lindíssimo trabalho realizado ao longo destas cinco décadas, como registrado no início deste texto. Porém, é preciso entender que não basta apenas a recuperação humana. A preservação ambiental faz parte, também, da nossa própria sobrevivência. De nada adianta realizar fisioterapias, tratamentos medicamentosos, ressocialização, etc. se estas pessoas que ali residem não tiverem o seu meio-ambiente preservado.
Além disso nós, cidadãos frequentadores e colaboradores da entidade, nos sentimos mal que decisões como estas sejam tomadas à revelia. A impressão que fica é que o Pequeno Cotolengo cometeu uma agressão contra todos nós. O ambiente realmente ficou inóspito no local. No lugar do frescor do bosque via-se apenas a lataria dos carros brilhando sob um sol escaldante (em plena era das mudanças climáticas), com muita fumaça e poeira, que agora não são mais filtradas pelas árvores, porque elas simplesmente não existem mais!

Visão geral do estacionamento,que antes era sombreado por lindíssimas árvores
Talvez a sociedade, em geral, nem se importe tanto com a preservação das árvores, mesmo com toda informação disponível hoje em dia sobre ilhas de calor formadas nas grandes cidades devido, justamente, à ausência de verde (causando, inclusive, grandes tempestades). Os realmente preocupados são minoria, pois vê-se muitas árvores serem totalmente destruídas pelos moradores nos bairros de Curitiba. Outras, a prefeitura também ajuda a destruir sem justificativa plausível, conforme já mostramos em alguns posts aqui deste blog. Uma ação violenta como a empreendida por tão notável instituição só serve para "deseducar" ainda mais a população e banalizar ainda mais a derrubada das árvores, fazendo com que os cidadãos pensem que isso é "normal" e "necessário" (levando-os a pensar que, se eles derrubam, eu também posso derrubar árvores). Tudo isso aliado à impunidade vigente em nosso país, está formado o ambiente propício para a não-sobrevivência do verde.
É uma pena. O país com a maior biodiversidade do Planeta, despreza suas florestas, seus bosques, seus rios, seus animais nativos... E nosso maior patrimônio vai acabando. Com ele, nossas vidas.
Preservar vidas humanas é necessário. Mas preservar a natureza é ainda mais, pois os seres humanos fazem parte dela e sem ela não sobrevivem!

Vista aérea do Pequeno Cotolengo,com o bosque hoje destruído na parte de cima, lado esquerdo da foto.
Fonte: imagens da internet.
A capela, que antes era sombreada, agora sob sol escaldante.
A destruição do verde espalha-se por toda parte.