A geração de energia elétrica a partir do sol (também
chamada fotovoltaica) deveria sair da classificação de “energias alternativas”
e ser colocada como protagonista em nossa matriz energética, pois já se trata
de uma forma de geração consolidada em diversas partes do mundo e, no caso
brasileiro, é o tipo de energia mais abundante e constante em nosso país. Só
para termos um fator simples de comparação, a Alemanha, país 23 vezes menor que
o Brasil em área, investe pesadamente na energia solar, já gerando quase 20% de
sua demanda. No entanto, os locais com pior incidência de raios solares aqui no
Brasil (região de Joinville, por exemplo) ainda são infinitamente melhores do
que os locais com maior nível de insolação no país europeu . Por aí imaginamos
o potencial inexplorado que temos aqui no Brasil.
Além da economia financeira, sobre a qual falaremos a
seguir, utilizar energia é uma decisão em prol da preservação ambiental, pois
reduz nossa dependência de outras fontes mais agressivas ao meio-ambiente.
Senão vejamos, uma usina hidrelétrica necessita, muitas vezes, de milhares de
quilômetros quadrados de áreas inundadas, as quais implicam supressão de
florestas, demolição de cidades e até diminuição de áreas agrícolas. Tais obras
demandam, também, investimentos gigantescos por parte do poder público. Sem
contar que, nestes tempos de seca em boa parte do país, devido justamente às
mudanças climáticas em curso, muitas usinas hidrelétricas operam com menos de
20% de sua capacidade, ameaçando até pararem suas atividades. O uso intensivo
da água para geração energética também priva a população brasileira do bem mais
precioso à sua sobrevivência. Devido justamente a estes fatores, a geração
hidráulica já não é mais uma opção sustentável nem mesmo economicamente viável
em nosso país.
Com a redução drástica no volume de água em diversas
represas, nosso país tem abusado da geração em usinas termoelétricas, tendência
contrária à de diversos países, que cada vez mais desligam tais tipos de usina
devido ao aumento da emissão de gases de efeito estufa (proveniente da queima
dos combustíveis fósseis), justamente os gases que alteram nosso clima.
A energia nuclear não é também uma opção viável, porque o
perigoso lixo radioativo até hoje não possui uma solução segura à sua
disposição pós-uso.
A energia eólica (gerada a partir dos ventos) é uma opção
limpa e sem resíduos, no entanto depende de regiões com ventos constantes, as
quais são raras. O Brasil possui áreas no nordeste e também no Rio Grande do
Sul, onde este potencial tem sido utilizado, apesar de faltar, muitas vezes
linhas de transmissão que o governo federal não terminou, para conectar as
centrais eólicas com a rede.
A geração energética a partir da biomassa é uma excelente
fonte de energia, também praticamente inesgotável, pois os resíduos de todos os
tipos só aumentam a cada dia. Só é preciso viabilizar custo, pois as usinas de
biomassa também demandam grandes investimentos e também a emissão de poluentes precisa
ser devidamente controlada, pois há queima de diversos componentes.
Frente aos problemas das outras fontes, a energia solar junta
diversas vantagens tanto ao meio-ambiente quanto à economia de uma maneira
geral, tais como:
- Os captadores de luz solar (placas fotovoltaicas) podem ser instalados em
quaisquer áreas ociosas, tais como topos de edifícios, coberturas de galpões
industriais, coberturas de estacionamentos e também telhados residenciais. Até
mesmo no chão eles podem ser instaladas, em áreas ociosas como pastos
improdutivos;
- Sua geração pode ser distribuída pelas cidades, ficando cada edificação
cadastrada como unidade geradora de sua própria energia, jogando-se o excedente
na rede elétrica, onde esta energia será redistribuída entre outros imóveis, possibilitando
descontos na conta de quem abriga os painéis em até 100% de seu valor (em
alguns países, como na Alemanha, este crédito volta em forma de pagamento por
parte da distribuidora – no Brasil a ANEEL só permite os descontos);
- Um equipamento eletrônico instalado após a entrada de luz do imóvel - chamado
inversor - faz automaticamente toda a comunicação das placas solares com a rede
elétrica, analisando quanto foi consumido de energia solar e quanto de energia
da rede distribuída precisou ser “puxada” ou deixou de ser consumida (gerando
créditos), tudo isso sem interferência do proprietário, sem precisar “ligar e
desligar”, etc. E toda esta atividade ainda pode ser monitorada via internet de
qualquer computador ou dispositivo móvel, através de uma controladora (opcional)
acoplada ao sistema de geração, que manda os dados para a rede;
- O sistema de geração solar necessita de muito pouca intervenção física nos
imóveis existentes, por utilizar-se das instalações elétricas disponíveis e
pesar muito pouco sobre a cobertura, podendo adaptar-se a qualquer tipo de
telhado, laje, etc.;
- Trata-se de um sistema já homologado, no Brasil, pela ANEEL – Agência Nacional
de Energia Elétrica, segundo a resolução 482/2012, a qual regulamenta a
microgeração e a minigeração de energia elétrica distribuída, permitindo
descontos em conta de luz. Algumas empresas já trabalham dentro desta
resolução, fornecendo equipamentos e serviços necessários à instalação do
sistema.
Importante ressaltar que a microgeração vai até 100 kWh/mês.
Acima deste valor e abaixo de 1 Megawatt trata-se de minigeração. Acima de 1
Megawatt a legislação trata como usina geradora, a qual pode ser pleiteada em
leilões específicos. A maior parte das residências e empresas situa-se na faixa
da microgeração, permitindo que cada pessoa ou empresa gere sua própria energia
e redistribua os excedentes na rede elétrica.
Apesar desta excelente iniciativa em regulamentar a geração
particular de energia, até por aliviar todo o sistema com um todo, o governo
brasileiro ainda incentiva muito pouco a iniciativa. O Brasil ainda é pobre em
linhas de financiamento para compra dos equipamentos e até mesmo em desoneração
fiscal para os mesmos. Diversos países desenvolvidos já incentivam este tipo de
geração energética há décadas, vendo a população como um parceiro estratégico
da política energética. Aqui no Brasil, mesmo frente à falta d´água crônica, ao
aumento da poluição, dentre outros fatores que ameaçam as formas tradicionais
de geração energética, ainda não se vê uma política séria de incentivo à
diversificação de nossa matriz (mesmo tendo o sol como grande “aliado” nesta
luta). Ao invés disso, pune-se o consumidor com sucessivos aumentos nas tarifas
de energia. Estes aumentos são um incentivo, de certa forma negativo, para mais
pessoas aderirem à microgeração. Mas deveriam haver linhas de crédito públicas,
incentivo a mais fábricas de painéis, inversores e componentes instalarem-se no
Brasil, dentre outros facilitadores. Fica a sugestão.