terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Parafraseando José Goldemberg

Dando continuidade ao triste assunto do desmatamento na Amazônia, que como sempre aumentou, estamos carecas de saber, eu não poderia deixar de citar os comentários, como sempre lúcidos, do físico José Goldemberg, publicados no jornal O Estado de São Paulo desta sexta-feira, 1º de Fevereiro de 2008.
Não teria muito a acrescentar ao que ele diz e, por serem bastante elucidativos, cito aqui alguns trechos:
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O professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP e ex-ministro de Ciência e Tecnologia José Goldemberg defendeu ontem o trabalho do Inpe ao divulgar informações sobre uma recente alta do desmatamento na Amazônia. “Está ocorrendo uma desqualificação do trabalho do Inpe. Por que não reclamaram quando a taxa estava caindo?” "

Eu não gostaria de me aprofundar no assunto política, pois nosso blog refere-se a meio-ambiente, mas não podemos deixar de reparar que neste (des)governo lulla, quando os números são favoráveis a elles, sua máquina de propaganda não perde tempo em alardear vitórias (que na maior parte das vezes inexistem e, quando existem, devem-se mais a outros fatores e não ao 'trabalho' delles). Agora o pior de tudo é quererem desqualificar o trabalho de uma instituição científica, no caso o INPE, que possui reconhecimento internacional e diversas pesquisas publicadas, colocando toda a culpa pelo desmatamento nestes números! É mais um sinal do desprezo que o lulla nutre pelo conhecimento e pelas pessoas que dedicam anos e até vidas a adquiri-lo!

Finalmente, é uma forma muito simples de lidar com um problema complexo, que é o desmatamento da Amazônia, o qual o próprio lulla qualifica como uma "ferida", quando já passou da fase de tumor maligno e está se tornando metástase, pois espalhou-se por toda a região e alastra-se de forma destrutível e já incontrolável. E isso não é fazer alarde! É ser realista! E ninguém melhor que os cientistas para provarem o que a realidade nos mostra, escancaradamente!

Em relação às atitudes do presidente, novamente José Goldemberg demonstra sua lucidez, como vocês podem conferir em mais este trecho da reportagem do Estadão:
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Em relação às críticas feitas anteontem por Luiz Inácio Lula da Silva, ele acha que o presidente está “fazendo o que não se vê desde a Antiguidade: matando os mensageiros”. Segundo Goldemberg, o trabalho do Inpe é “cuidadoso e um erro cometido não significa que todo o trabalho esteja errado sempre”."

Eu não teria o que acrescentar a esta definição do que ocorre, do descaso deste (des)governo com uma questão tão séria. É mais fácil para elles censurarem os números e até desmoralizarem os que chegaram a eles, através de complexas análises de imagens de satélite.
Agora não adianta fugir da questão principal: estes números mostram um pouco do que já perdemos de cobertura vegetal, de biodiversidade. Com certeza perdemos muito mais. E não se trata de meros números. São milhares de árvores, animais, plantas perdidas (algumas espécies sequer foram estudadas), para sempre. Pois dificilmente os responsáveis serão punidos, visto que quase tudo lá na Região Norte é feito ilegalmente e a legislação brasileira pode até ser rigorosa, mas não se aplica. E mesmo se fossem punidos com multas ao menos, governo nenhum nunca se preocupou em recuperar áreas desmatadas.
O pior de tudo é que, enquanto fica-se brigando por números (alguns governadores e prefeitos querem "revogar" estes números), a floresta continua caindo. Tecnologia existe para georreferenciar tudo por lá. O que falta é ação, é mandar recursos materiais e humanos para a região, para efetivamente fiscalizar, autuar e impedir novos crimes. A floresta está entregue a todos que quiserem pilhá-la. E a mentalidade brasileira, desde a colonização, sempre foi esta: a de esgotar os recursos naturais de determinado local e depois abandonar a terra arrasada, para reiniciar o ciclo em outro local. Mas uma hora a floresta acaba. E ate´ lá sera´ que teremos ar para respirar e água para beber?

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