A importância das florestas na manutenção do Planeta Terra é inegável. Não estou falando nem do seqüestro de carbono que elas realizam diariamente - importância recentemente questionada devido ao fracasso da COP-15, em 2009, e aos esforços da maioria dos países em manter a poluição nos níveis atuais, devido a um medo injustificado de "não se desenvolverem mais" (como se para se desenvolverem precisassem apenas poluir - mas esta discussão fica para outro artigo).
O que quero ressaltar aqui, dentre muitas outras vantagens, é que as florestas, de uma maneira geral, realizam diversos "serviços", muitas vezes imperceptíveis, mas importantíssimos à segurança e manutenção da vida na Terra. Para citar alguns exemplos : controlam a erosão e a perda dos solos (principalmente em encostas); evitam a desertificação; mantém os níveis dos cursos d´água (não deixando que os rios nem sequem e também não extrapolem seus níveis, o que causa inundações); controlam pragar urbanas e na agricultura (através da manutenção da biodiversidade e do equilíbrio ecológico); melhoram o microclima (evitando aquecimentos e tempestades extremas, como é comum acontecer na área mais impermeabilizada da Grande São Paulo, por exemplo) e até mesmo protegem populações contra ventos fortes, criando barreiras naturais contra eles. Além destas, muitas outras vantagens podem ser enumeradas aqui. Como podemos reparar, a purificação do ar, através da retirada dos gases tóxicos, nem mesmo fora mencionada (apesar de ser uma destas vantagens).
Já vê-se diversos efeitos desta superexploração na mais diferentes regiões do Planeta. Recentemente tempestades de areia praticamente apagaram Pequim da visão de seus habitantes. Tal areia é proveniente de desertos bastante distantes desta grande metrópole chinesa. O fato é que tais desertos vêm aumentando ao longo das décadas, devido à destruição de praticamente todas as florestas nativas chinesas, seja para expansão agrícola ou industrial. A ausência dos ecossistemas tem aumentado as regiões arenosas consistentemente. Da mesma forma as Filipinas arrasou com suas florestas nativas e hoje sofre com inundações sem solução. E não precisamos ir longe, para ver que a tragédia catarinense de 2008, com as chuvas acima do normal, foi agravada devido à ocupação desordenada de encostas e beiras de rios, outrora ocupados pela mata-atlântica nativa, a qual continha a terra. Da mesma forma a alta taxa de impermeabilização e ausência de verde na Grande São Paulo causou mais de 40 dias de inundações somente nesta ano de 2010 (sem contar os outros anos). E os exemplos não parariam por aí...
Infelizmente a humanidade quase nunca considerou tais vantagens na hora de explorar as florestas. Apenas o valor econômico imediato da madeira e do uso posterior do solo fora considerado ao longo dos séculos. E deu-se uma exploração desmedida dos recursos florestais, em muitos lugares levando-os à exaustão. A verdade é que o ganho com a exploração de madeira é efêmero, imediatista. Pode-se ganhar muito em pouco tempo, mas a mentalidade de "terra arrasada" não deixa nada a ser feito depois. Uma exploração sustentada, através de selos certificadores como FSC ou CERFLOR, para citar alguns exemplos, é o início. Através destes, garante-se que as árvores foram manejadas de forma a manter a floresta em pé e evitar extinção em massa de espécimes (sem contar, também, a questão social que envolvem). Mas ainda há muito a ser feito. No Brasil é uma ínfima porcentagem das florestas que são exploradas corretamente.
Além disso, apenas 3% das florestas mundiais são plantadas, perfazendo menos de 10% da produção madeireira (dados de 2000), mostrando que ainda consumimos - e muito - madeiras exploradas ilegalmente, de florestas nativas; seja na construção civil, nos móveis ou até em forma de combustível (lenha). O reflorestamento, principalmente no Brasil, serve à indústria de papel e celulose e também à mobiliária (placas de madeira). No entanto, tal reflorestamento baseia-se em espécies não-nativas (como pinus e eucalipto) e é necessário averiguar a quantidade de florestas nativas que estão sendo substituídas pelas invasoras. Claro, esta atividade atenua a pressão sobre florestas nativas. Só que não podemos nos basear somente nelas.
A floresta, como um sistema equilibrado de fauna, flora, água, ar e outros elementos, deve servir de exemplo para diversas atividades humanas. Não podemos ter predominância de uma só espécie. Como nas florestas, o plantio consorciado de diversas espécies (nativas e não-nativas) leva a um equilíbrio maior. Pode-se não ter a produtividade de amplas áreas cultivadas apenas com eucaliptos, onde tem-se uniforimidade de toras, facilitando a exploração rápida. Estas áreas são "desertos verdes", pois nem insetos vivem nelas. Por que, então, na consorciar o próprio eucalipto com espécies brasileiras? É perfeitamente possível e teria-se até outros tipos de madeiras, bem como permitiria a vida de animais dentre elas. Isto é apenas uma idéia, para termos a eficácia florestal implantada, trazendo seus serviços ambientais. Extrapolando um pouco, a agrofloresta seria, ainda uma ampliação das atividades de tais locais, produzindo-se alimentos orgânicos de forma consorciada com as árvores.
Enfim, até mesmo o reflorestamento visando a não-exploração é extremamente vantajoso para a população em geral. Como já mencionado, controlar a vazão dos rios e prevenir deslizamentos de enconstas é importantíssimo. Em diversos países têm-se casos de reflorestamento muito bem sucedidos. A região da Nova Inglaterra, sudeste dos Estados Unidos, onde a colonização americana teve início, bastante montanhosa, foi reflorestada já durante o século XIX, à medida que a agricultura era expandida para o oeste do país. O leste europeu, outrora degradado pelo regime comunista soviético, passa por processo de reflorestamento até pelo abandono das terras agrícolas após a abertura política de 1990, quando a população saiu em busca de novas oportunidades em outros locais. A Coréia do Sul, empobrecida e arrasada pela guerra dos anos 50, o que a levou a fazer uso de quase todos os seus recursos florestais, passou por amplo programa de reflorestamento - principalmente das encostas - nas últimas 5 décadas (isso aliado a amplo programa educacional e de desenvolvimento industrial de alta tecnologia). Tal programa já têm seus efeitos positivos: enquanto a pobre e comunista Coréia do Norte ainda sofre com inundações pela ausência de florestas, o país do sul vê este problema como algo longínquo. Outros programas semelhantes ocorrem na Turquia (país também montanhoso e que destruiu suas florestas de carvalhos ao longo de séculos) e até na China, onde uma "grande muralha verde" de 4.480 Km é plantada para conter o avanço dos desertos.
Tais reflorestamentos nunca irão recompor a variedade de espécies originalmente existentes em suas áreas. Mas trazem, de qualquer forma, muitos serviços gratuitos, deixando o ambiente muito melhor do que se estiverem com a "terra nua". O Brasil não tem esta mentalidade. Em diversos estados de nossa federação vê-se áreas abandonadas, desprovidas de agricultura e de florestas. Talvez isso venha da mentalidade brasileira de que "mato é atraso". Arrasa-se a terra e abandona. Um exemplo claro desta atitude é a região do Vale do Paraíba, localizada entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Tal região já foi a de maior expansão agrícola, desde o período colonial até o início do século XX, devido ao café, que já foi o maior produto de exportação brasileiro. Plantou-se café sem limites, em todos os morros e vales da região, arrasando com a biodiversidade local. Após a crise de 1929 e também com o esgotamento da terra, tudo foi abandonado e até hoje o Vale do Paraíba, embora tenha tido grande desenvolvimento industrial na segunda metade do século XX, manteve seus morros secos, cheios de erosões e com não mais do que capim crescendo neles. Uma tristeza, verdadeira terra arrasada. O plantio de florestas deveria ser incentivado em regiões como esta, aumentando a biodiversidade, melhorando os indicadores ecológicos e a paisagem de uma maneira geral. Mas nada se faz... E a Amazônia está indo para o mesmo caminho. Em grande parte do Pará já não há mais florestas, apenas terra arrasada. O que se ganha com isso?
Um amplo programa de reflorestamento no mundo todo poderia ser coordenado por entidades como Banco Mundial ou FAO. Incentivaria-se globalmente e atuaria-se localmente, com estados, prefeituras, empresas, etc. Atuaria-se tanto visando a produção quanto a preservação. O mundo ficaria mais verde e mais sustentável. Os "créditos de carbono" poderiam ser um incentivo. Mas não o único. As florestas sustentam muito mais que isto. E todos ganham com elas.
FONTE DE PESQUISA (dados): Brown, Lester R. - "Éco-Économie" (Editora Seuil)